Ivone Rosa

REPRESENTAÇÃO DO AMOR

Eu tinha aproximadamente cinco anos, quando ouvi um nome de um homem que eu achei muito diferente aos demais: “Môassim”. Junto ao nome estava registrada a linda personalidade desse ser humano! Meus pais contavam que ele sempre ajudava outras pessoas, pois era o único morador do local que possuía um carro, e que era um humilde fusca vermelho. Transportava pessoas doentes, casos de emergência, e até gestantes prestes a dar à luz! Nunca cobrava nada de ninguém, nem um troquinho para a gasolina.

Os meus pensamentos criavam forma: a casa dele devia ser cor rosa e nas paredes um monte de coraçõezinhos pintados! Imaginei também que ele tivesse asas escondidas, porque minha mãe vivia dizendo que ele era um anjo! Ah, e as refeições? Acreditava que a mesa do café da manhã era composta de maçãs do amor e pães de mel…

Certa vez escutei uma conversa, já iniciada, que o sonho dele era ser um jogador de futebol. Nesse momento, instaurou-se uma grande confusão em minha cabeça: “Como poderia um anjo jogar bola? Não era justo! Ele, com asas, teria a vantagem de voar e pegaria todas as bolas no alto, e o seu time ganharia sempre!  Não, não. Ele não poderia realizar aquele sonho…”

Meus pensamentos foram interrompidos quando escutei que ele havia sido internado em um hospital na Serra. Senti um aperto no coração e uma tristeza inexplicável. Assim que minha mãe ficou sozinha, me aproximei e fui buscar solução para meus questionamentos:

– Mãe, por que um anjo fica doente? Anjo pode morrer? –quis saber.

– Você sonhou com isso, minha filha? –  ela perguntou com sorriso.

– Os anjos não existem para sempre? – fixei meus olhos nos dela.

-Sim, claro! – respondeu seriamente com um olhar cheio de dúvidas.

– Então, por que o anjo daqui ficou doente?

– E quem é o anjo daqui? –perguntou séria.

–  O “Amor assim’! – afirmei convicta.

Quem? -olhou-me com espanto e sem entender.

– O Môassim, mãe! O que ajuda todo mundo! – respondi quase impaciente.

Ah… o Sr. Moacir! – ela exclamou com uma certa satisfação, por conseguir entender.

Nesse momento ela saiu da pia, enxugou as mãos, abaixou-se e segurando- -me com os olhos cheios de lágrimas revelou:

– Minha querida, agora, esse Anjo foi para o céu e não voltará mais.

Um grande silêncio cresceu em meu pensamento quando descobri que “anjos” …  também morrem.

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Ivone Rosa

Professora de Literatura & Produção Textual Pós- Graduada em Gestão Educacional Roteirista formada pela Academia Internacional de Cinema-AIC/RJ Poetisa, cronista e contista 1º lugar - melhor intérprete Concurso Poesia SESC Niterói/RJ Menção Honrosa -Concurso Poesia -Duque de Caxias /RJ Participações: Antologia Diário da Poesia, Biografia Jornalista Jota Sobrinho, Diário em Poemas, Almas em prosa e verso, Coletânea Diários Escritos. Participações nos Fanzines: Poezine[Lit.na Varanda] e SerMentes - Sec.Educ.Niterói/RJ Palestrante Escola Pública sobre a Resistência da Mulher

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