Desabafos & DiscussõesLuiza Moura

Os nossos caminhos são, de fato, nossos?

Acordar cedo, ir trabalhar, estudar, cuidar dos filhos, visitar os pais, bater metas, atingir objetivos, mudar de emprego: tudo isso nada mais é do que um pequeno retrato das nossas vidas, dos nossos dias, da nossa trajetória.

No entanto, questiono: os caminhos percorridos, as coisas que fazemos (e que não fazemos), são, de fato, nossas?

As estradas da vida que decidimos trilhar, os passos arduamente percorridos e os calos marcados sob os pés, também deveriam ser nossos? Ou apenas vivemos como deveríamos viver, como os outros gostariam que vivêssemos e como nossos pais, amigos, irmãos, filhos pensam ser o melhor para nós?

E isso nos leva a refletir: os nossos caminhos são, de fato, nossos?

A resposta para essa pergunta não está no caminho que trilhamos, nas conquistas que obtivemos ou no quão bem-sucedidos nos tornamos. Não se trata dos resultados das nossas ações, e sim daqueles projetos que sequer tiveram oportunidade de um dia tornarem-se resultados, pois os abortamos ainda quando eram mero projetos. No entanto, esses projetos verdadeiros, capazes de representar o nosso “eu interior” e sequer postos em prática, são aqueles capazes de gerar a mais profunda satisfação. Levando-nos a concluir, sem margem para dúvidas, a certeza de nossos caminhos serem, de fato, nossos.

Há uma passagem marcante retirada no livro “Assim falou Zaratustra” do filósofo Friedrich Nietzsche, que aborda a coragem que devemos ter para atravessar os rios da vida, os nossos rios. E, para isso, ninguém poderá construir em nosso lugar as pontes nas quais precisaremos passar para atravessá-lo. Ademais, existem, por certo, diversos atalhos ou semideuses dispostos a nos ofereceram “fórmulas mágicas” para chegar à outra margem. No entanto, acertar essa oferta, apesar de nos levar ao outro lado do rio, nos custaria o que de mais valioso possuímos em nós (a nossa essência).

Nos perderíamos ao acreditar em alguém pronto a solucionar os nossos problemas, os nossos medos e os nossos anseios.  Nos perderíamos pois os calos a serem carregados sob os pés após a travessia do rio, já não nos pertenceria. As marcas da batalha no momento de vitória, não seriam nossas (e, assim, tampouco a glória).

E, ao final desta travessia, voltaríamos a estaca zero. E nos questionaríamos: será que meus caminhos são, de fato, meus?

Em seu poema “o deus mal-informado”, Carlos Drummond de Andrade sabiamente nos puxa a responsabilidade de sermos autores da nossa própria história. Na estrofe inicial, afirma-se “no caminho onde pisou um deus há tanto tempo que o tempo não lembra, resta o sonho dos pés, sem peso, sem desenho”. E questiono: o que falta para não querermos mais apenas seguir pegadas, e criarmos a nossa própria trajetória? Para iniciarmos essa peregrinação é preciso, antes de tudo, saber se seremos nós quem irá construir as placas, fixar as setas, apontando para onde devemos ir. Somos nós os responsáveis por criar os desvios (ou simplesmente decidiremos seguir em frente). Precisamos ser os verdadeiros protagonistas da nossa estrada. E não apenas mais um carro a transitar por ela. Mas, para isso, é preciso colocar “a mão na massa”. Tem-se que enfrentar os medos, as inseguranças, as incertezas. Tem-se que estar disposto a escavar as vias e pôr o asfalto, consolidando o caminho desbravado.

E, após a estrada pronta, é preciso caminhar. Porém, sabendo da existência constante das novas oportunidades de escolha ao longo do percurso (eis aí nosso livre arbítrio). Isso porque, mesmo que tenha sido nós, com nossas próprias mãos, quem construiu a estrada, sabiamente saberemos da existência das vias alternativas ao longo dela (afinal, fomos nós que a criamos), dentre as quais poderemos eleger caminhos outros. Dessa forma, o mais importante de tudo, ao final, é nunca deixar de caminhar, e construir a nossa própria história. O mais valioso não é termos certeza de onde iremos chegar ao final da estrada, e sim termos a consciência de ser aquela, de fato, a nossa estrada; e que os passos, arduamente acumulados, valeram à pena. E nesse momento, os passos já se encontram perdidos na linha do horizonte, ao darmos uma leve olharmos para trás. Ao final, o que importa não é o quão rápido percorremos a estrada, e sim o quão consciente elegemos o nosso caminho no decorrer do percurso, e o quão satisfeitos estaremos dessas escolhas. Posto que, arrepender-se da não execução de um projeto (daqueles verdadeiramente nossos), é algo que o tempo não nos permitirá retroceder.

É preciso caminhar a estrada da vida.

É preciso deixar a nossa marca, cravando no solo a nossa pegada, do nosso jeito e com nossos dedos. Só assim poderemos construir um desenho verdadeiro, marcado na história com o peso de nossos próprios pés. Ser a música do nosso destino (frase que carrego tatuada no peito) é algo extremamente difícil, sobretudo ante as inúmeras demandas sociais como as citadas no parágrafo inicial deste texto. Todavia, é algo primordial a ser feito caso queiramos deixar as nossas marcas na Terra.  E falo isso não apenas para querermos ser lembrados (e assim fortalecer nosso ego), mas sim para termos a consciência plena de termos sido o que gostaríamos de ser. E que trilhamos os nossos caminhos, e não aqueles que nos fizeram acreditar ser, de fato, nossos.

(Esse texto é de Fernando Aquino, que nasceu em Recife-PE, tem 27 anos, é servidor público e autor de contos, crônicas e poemas. Escrever sempre foi algo muito presente em sua vida, Fernando teve seu primeiro poema publicado aos 11 anos em um jornal local de sua cidade. O seu primeiro livro de poesias, chamado “Passagem da Chuva”, encontra-se disponível para vendas no site da Amazon. Atualmente, o escritor divulga seu trabalho através do instagram (https://www.instagram.com/nandoescritor) e está iniciando um novo projeto no youtube em que dará dicas para novos escritores. (https://www.youtube.com/channel/UC3XRPEIRgo7tybDtYLAssTw).

Participe também dessa coluna! Envie o seu texto (de desabafo ou reflexão) para o email [email protected] ou entre em contato pelo instagram @luiza.moura.ef. A sua voz precisa ser ouvida! Juntos temos mais força! Um grande abraço e sintam-se desde já acolhidos!

Luiza Moura.

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Luiza Moura

Luiza Moura de Souza Azevedo é de Feira de Santana. Enfermeira. Psicanalista e Hipnoterapeuta. Perita Judicial. Mestre em Psicologia e Intervenções em Saúde. Doutora Honoris Causa em Educação. PhD em Saúde Mental - Honoris Causa - IIBMRT - UDSLA (USA); Doutora Honoris Causa em Literatura pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos. Possui MBA em gestão de Pessoas e Liderança. Sexóloga; Especialista em Terapia de Casal: Abordagem Psicanalítica. Especialista em Saúde Pública. Especialista em Enfermagem do Trabalho. Especialista em Perícias Forenses. Especialista em Enfermagem Forense. Compositora e Produtora Fonográfica. Com cursos de Francês e Inglês avançados e Espanhol intermediário. Imortal da Academia de Letras do Brasil/Suíça. Acadêmica do Núcleo de Letras e Artes de Buenos Aires. Membro da Luminescence- Academia Francesa de Artes, letras e Cultura. Membro da Literarte- Associação Internacional de Escritores e Artistas. Publicou os livros: “A pequena Flor-de-Lis, o Beija-flor e o imenso amarElo” e "A Arte de Amar. Instagram: @luiza.moura.ef

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Um Comentário

  1. Eu sempre questiono o fato de fazer o que o outro quer, porque quando chegar a sua vez ele dirá eu faço o que eu quero e você passou de bobo para um bobo e frustrado. Cada um tem seu caminho seu destino, imagine um elefante voando ou um gato berrando não dá.

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