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Entrevista: Conheça a Professora Doutora Juliane Elesbão

A Revista Entre Poetas & Poesias bateu um papo com a professora Doutora Juliane Elesbão, que desenvolve um trabalho de incentivo à leitura via Instagram.

Confira a entrevista.

1. Apresente-se

Meu nome é Juliane de Sousa Elesbão, tenho 30 anos, sou Doutora em Letras pela UERJ e, atualmente, sou professora do Ensino a distância da UFC Virtual/UAB, além de trabalhar com correção de redações.

2. Quando se descobriu leitora? Quem foi sua maior referência?

Eu me descobri leitora entre os meus nove e dez anos de idade, ao adentrar pela primeira vez na biblioteca da escola em que eu estudava à época e descobrir os vários mundos que existiam ali. Eu não tenho uma referência de leitor em casa… infelizmente, meus pais possuem uma formação educacional precária, que os levou a não cultivar o hábito da leitura. No entanto, lembro de minha professora da 4ª série, a Rosa, a qual eu adorava e que estimulava muito a nossa imaginação com histórias, canções, etc.

3. Dentro tantos livros que já deve ter lido ao longo do tempo, qual mais te marcou? Por quê?

Dois livros me marcaram muito: o primeiro foi A Droga da Obediência, do Pedro Bandeira. Foi, praticamente, o primeiro livro que li e que iniciou minha vida de leitora. Lembro do fascínio que senti ao percorrer aquelas páginas e de sentir que estava a viver as aventuras com os cinco protagonistas da história: cinco adolescentes que formavam o grupo Os Karas e que travavam uma batalha com o Dr. Q.I., vilão da história. O segundo livro foi Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, cuja prosa poética me transbordou. A linguagem, as reflexões sobre o tempo, a difícil relação entre pai e filho, a “enfermidade” que tomava de conta do protagonista… tudo isso amalgamado por uma sensibilidade desafiadora animou meu espírito e fez com que este livro se tornasse meu queridinho. Não foi à toa que o estudei durante meu mestrado na UFC.

4. Quando decidiu unir a paixão pela escrita com o trabalho de influenciadora digital no Instagram?

Na verdade, não me considero uma influenciadora digital. Criei um perfil literário no final de março deste ano, durante o início do isolamento social aqui em Fortaleza, no intuito de compartilhar leituras e impressões de leituras com quem estivesse interessado. Às vezes, sinto falta de ter com quem conversar sobre literatura e essa foi a maneira que encontrei de tentar fazer isso… tem sido um pouco complicado, pois não sou muito “ligada” em redes sociais, mas tem sido uma experiência estimuladora para mim.

5. Como você vê o incentivo à leitura no Brasil e especialmente no Rio de Janeiro?

Apesar do pouco incentivo do governo em relação à leitura, acredito que há todo um movimento alternativo que procura incutir nas pessoas o hábito da leitura e isso é bastante significativo. Quando vemos a quantidade de perfis literários no Instagram, os vários canais de booktubes no Youtube, o surgimento de vários clubes de leituras e associações de leitores, bibliotecas comunitárias, disponibilidade de ebooks gratuitos, etc, percebemos o quão intenso tem sido o movimento a favor da leitura no Brasil. Infelizmente, os problemas sociais e a falta de investimento em educação criam barreiras para que a leitura seja um hábito cada vez mais realizado, vivido por muitos. O Instituto Pró-Livro, por exemplo, em pesquisa realizada em 2016 que o brasileiro lê, em média, 2 a 3 livros por ano. É um índice baixo e que preocupa, visto que a leitura não é apenas entretenimento, mas também ampliação de repertório, trabalho intelectual, “alimento” para a imaginação, etc. Por estar longe do Rio há um tempo, não tenho ideia de como esse cenário tem se delineado por lá, mas acredito que não seja muito diferente do que ocorre em todo o país.

6. Se pudesse nos indicar somente três livros para lermos, quais seriam? Por quê?

Eu indicaria: 1. Lavoura Arcaica (claro!), pelos motivos já dados na pergunta 3; Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez, por conta da dura realidade da condição humana ali retratada, da força do destino que age sobre os homens, da gama de referências históricas e literárias que podemos identificar na tessitura textual, da interpretação fantástica que o autor fez da América Latina, metonimizada na pequena Macondo… é uma obra completa! Só por isso já vale a pena a sua leitura!; por fim, indicaria Monsenhor Quixote, de Graham Greene, por ressaltar o ato da tolerância, especialmente. O livro trata de um padre católico, que jura ser descendente de D. Quixote de la Mancha, e de um prefeito comunista, cuja relação não é muito amigável por conta de seus posicionamentos antagônicos. No entanto, por uma série de adversidades que os dois enfrentam, ambos se veem unidos em uma fuga da cidade em que viviam e, a partir daí, o que temos é um conjunto de diálogos antagônicos, embates teológicos, que acabam por minar a inimizade que havia entre eles, fazendo-os amigos. O mais interessante é que o enredo gira em torno de questões ligadas a regimes autoritários, sobretudo a ditadura do General Francisco Franco na Espanha e as trágicas consequências do socialismo implantado na antiga URSS, além de criticar o fanatismo religioso e a intolerância contra a diversidade de crenças. Eu super indico esse livro!

7. Que tipo de leitura mais lhe agrada? E em qual momento do dia prefere ler?

Geralmente, leio prosa (entre romances e contos). Não tenho um horário preferido para ler… sempre que posso, estou com um livro na mão, rsrsrs.

8. Como você vê a questão da leitura entre os jovens no nosso país?

Acredito que o número de jovens leitores tem crescido, mas ainda não é satisfatório. Ainda assim, é com frequência que vejo vários jovens com um livro na mão ou falando sobre o que estão lendo… claro que as leituras que eles fazem ainda se concentram, na maioria, em best-sellers românticos de escritores norte-americanos… todavia, acredito que toda leitura é válida e que, a depender, um livro vai levando a outro, e a outro, conforme a maturidade leitora do jovem vai se desenvolvendo. Precisamos aumentar e aperfeiçoar o hábito da leitura entre os jovens… estamos tentando, acredito.

9. Como nasce o processo de produção de material que você divulga em sua página no Instagram?

O processo de divulgação do material que divulgo nas redes nasce das minhas próprias leituras e da minha formação em Letras. Como leio livros e textos teóricos, que tratam de linguagem, estilo, técnicas de narrativa, correntes críticas, entre outros pontos, tento aliar esse conteúdo às leituras que faço/fiz para produzir algo interessante de ser divulgado. Contudo, tento não sobrepor a formalidade da pesquisa acadêmica ou do ensino nas postagens que faço, mas, ao mesmo tempo, procuro escapar do superficialismo inerente às redes sociais.

10. Além de leitora, exerce a função de escritora? Se não, já pensou em um dia exercer? E que tipo de literatura produziria?

Não sou escritora, não de literatura. Eu já tive um poema publicado em uma coletânea resultante de um concurso e já rabisquei algumas coisas, mas não me vejo como escritora. A meu ver, não tenho “dom” pra isso… ultimamente, minha escrita tem se restringido a trabalhos acadêmicos. No entanto, caso eu enveredasse pela escrita literária, acredito que me encaminharia pela poesia…

11. Planos literários para o futuro. E como as pessoas podem conhecer um pouco mais sobre seu trabalho?

Meus planos literários se resumem a ler cada vez mais que eu puder e me dedicar um pouco mais ao perfil que criei no Instagram. As pessoas podem ver um pouquinho do que produzo tanto no @literoscopia_ (ig literário que criei recentemente) quanto no suplemento Araçá, ligado à Revista Entre Poetas e Poesia (https://entrepoetasepoesias.com.br/), dirigido pelo professor e escritor Renato Cardoso, além de artigos acadêmicos disponíveis na internet.

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Renato Cardoso

Renato Cardoso é casado com Daniele Dantas Cardoso. Pai de duas lindas meninas, Helena Dantas Cardoso e Ana Dantas Cardoso. Começou a escrever em 2004, quando mostrou seus textos no antigo Orkut. Em 2008, lançou o primeiro volume de “Devaneios d’um Poeta” e em 2022, o volume II com o subtítulo "O Rosto do Poeta". Graduado em Letras pela UERJ FFP e graduando em História pela Uninter. Atua como professor desde 2006 na rede privada. Leciona Língua Inglesa, Literatura, Produção Textual e História em diversas escolas particulares e em diversos segmentos no município de São Gonçalo. Coordenou, de 2009 a 2019, o projeto cultural Diário da Poesia, no qual também foi idealizador. Editorou o Jornal Diário da Poesia de 2015 a 2019 e o Portal Diário da Poesia em 2019. É autor e editor de diversos livros de poesias e crônicas, tendo participado de diversas antologias. Apresenta saraus itinerantes em escolas das redes pública e privada, assim como em universidades e centros culturais. Produziu e apresentou o programa “Arte, Cultura & Outras Coisas” na Rádio Aliança 98,7FM entre 2018 e 2020. Hoje editora a Revista Entre Poetas & Poesias e o Suplemento Araçá.

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