Renato Amaral

Crônica A Falta de Pudor

Fonte: Imagem de Сергей Корчанов por Pixabay

 

Às vezes ouvimos as pessoas mais velhas falarem que antigamente o ser humano tinha mais pudor. Tanto nas roupas, costumes, músicas, conversas e no modo de agir em público ou com atitudes. E eu que me interesso em fazer leituras sobre o homem no espaço e no tempo fico tentando imaginar como funcionavam as relações interpessoais em tempos passados, para fazer um paralelo com os dias atuais. Não que eu seja um saudosista, isso jamais! Minha querida avó Lamyra nascida em 1920 (já falecida), sempre foi uma mulher que olhava para frente. Do passado guardava somente as boas lembranças e ficava feliz em viver a “modernidade”. Nunca foi pudica ou hipócrita como percebo em pessoas que lamentam o presente. Quem nunca ouviu “Na minha época as coisas eram melhores” ou “Não há música como da minha geração” ou “Antigamente era isso ou aquilo outro” etc. Acredito que essas pessoas têm dificuldade de aceitação que não dominam o tempo, ou talvez dificuldade em excesso de desapego. Deixo como exemplo o meu amor por máquinas de escrever antigas, mas que não me impedem de usar um notebook com impressora para meus trabalhos. Posso citar também a dona de casa que com certeza prefere o ferro elétrico ao ferro a carvão.

Sou muito prático para lidar com isso tudo, talvez seguindo o exemplo de minha amada avó que me ensinou a olhar adiante. Censurar alguma coisa atual para defender algo do passado ou desmerecer tecnologias em detrimento de uma nostalgia beira a falta de lógica e faz com que caiamos no senso comum e repitamos erros passados. O pai que recrimina o funk que o filho ouve hoje foi o mesmo que teve o rock and roll recriminado pelo seu pai no passado. Os tempos mudam e nada se perpetua.

Pra não dizer que não sinto falta de nada do passado deixo aqui o meu sentimento de saudades profundas do pudor em relação ao caráter. Era vergonhoso antigamente para uma pessoa ou sua família ver seus rostos estampados em páginas de jornal ou na televisão. Suas reputações enlameadas por casos de corrupção ou outros crimes. Hoje a “cara de pau” impera sem limites. Muitos não sentem mais vergonha em serem associados a esquemas, fraudes ou falcatruas. Dinheiro escondido dentro da cueca, na Bíblia rasgada ou em bunkers são fichinha para essa gente. Se eu pudesse eleger algo do passado para voltar seria esse pudor, certamente! Na minha opinião, o futuro caminharia melhor com esse retorno. No mais, avante!

 

Por Renatto D’Euthymio

Instagram: @renattodeuthymio

E-mail: renattodeuthymio@gmail.com

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Renatto D'Euthymio

Renatto D'Euthymio, carioca de Santa Tereza, dividindo residência entre São Gonçalo - RJ e a pacata e inspiradora, São José do Calçado no Estado do Espírito Santo. Estudante Rosacruz, técnico em Radiologia, flamenguista fanático e apaixonado pelas filhas Rannya e Rayanne. Cultiva desde criança uma paixão pelos livros e seus gênios. Autor do livro de poemas Solilóquio Antes e Depois da Forca (2020) e do livro de humor O Tabloide Jocoso (2021). Premiado em dezenas de concursos literários (Poesia, Crônica, Conto e Microconto), e publicado em Antologias e Coletâneas. É tão ligado à Literatura que de vez em quando não se contém e atreve-se a rabiscar algumas linhas.

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