Michelle Carvalho
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Tela

Tela

 

 

Ao observar-te, distante de ti

Vejo-te como uma belíssima pintura,

A movimentar-se e sorrir lindamente,

O principal personagem da tela de minha vida

Gosto de te olhar

Peculiarmente quando não estás me vendo

Ou quando pensas que não estou te olhando…

Observo-te e fico paralisada

Decorando cada traço teu,

A forma bela de teus olhos

O desenho de tua boca

Teu sorriso radiante

Tuas feições quando estás sério

Quando sorri como um menino travesso

Ou até mesmo

Teu olhar distraído, perdido em algum pensamento distante…

Ah… menino amado

Menino meu

És a figura que almejo fitar primeiramente a cada manhã

A paisagem do meu entardecer

Lua que irradia beleza e mistério em minha noite

Toque que acalenta, entorpece e me prepara

Para um transcendental sonho contigo

E para um inesquecível novo dia a teu lado…

 

 

Inicio mais uma coluna com esse ar romântico e poético, que me é peculiar, para trazer a baila este tema tão atual que são as telas…

Agora estou aqui diante da tela do meu computador e você aí lendo na tela do seu celular, computador ou outro meio brilhante e iluminado cheinho de letras.

Estamos cercados por telas nesta era conectada, telas já conhecidas por nossos avós como a televisão, mas também muitas outras interativas a ponto de cada um ter sua própria e manter sua cabeça “enterrada” nelas parecendo zumbis ou avestruzes.

Tanto foi falado na década de 90, quando eu ainda era pequena e estava na escola, sobre a globalização, que seria o meio de nos conectarmos ao mundo de forma imediata! A expectativa era grande! Fiz diversos trabalhos sobre isso (em uma época em que a pesquisa era tão somente em livros físicos e enciclopédias, o que realmente dava muito trabalho!).

Eu, em minha infância sonhadora de cidade pequena, sequer imaginava na grandiosidade desta conexão que se iniciava lá atrás e foi crescendo a ponto de nos tornarmos tão individuais que conversarmos com quem está na mesma casa por meio de uma tela.

Tínhamos a expectativa de unir o mundo, das informações serem mais céleres e nos ajudarem a conquistarmos mais, realizarmos proezas dantes não conseguidas em pouco tempo e, assim termos mais tempo…

Ledo engano!

A expansão por informações e tarefas tornaram-se ainda maiores!

Antes trabalhávamos mais de forma braçal e o trabalho ficava no trabalho! Quando chegávamos em casa descansávamos a mente e vivíamos o momento familiar, todos ao redor de uma única tela, a de TV, ou mesmo de um rádio, unidos e com o toque, o colo, o cafuné e uma boa refeição…

Com celeridade em que podemos realizar tarefas, ao invés de termos mais tempo livre para os momentos de amor, os preenchemos com mais tarefas, e assim fizemos de um pequeno rodamoinho um grande furacão interno que se intensifica mais a cada segundo em que nos viciamos nas novas telas, no consumo por elas e por conhecimentos muitas vezes inúteis.

Chegamos ao ponto de termos pessoas desenvolvendo síndromes, problemas de saúde física, postural e mental, além do isolamento social, eis que as telas tornam mais próximos quem está distante e afasta quem está ao lado (quantas vezes já ouvimos esta frase!).

Esse distanciamento e isolamento interno tem gerado situações jamais pensadas e sem um pingo de humanidade, tal como em meio a um acidente com feridos, as pessoas pegam imediatamente o celular para filmar a agonia alheia e conseguir visualizações, esquecendo-se totalmente que se trata de um telefone e que o mesmo foi feito para chamar por socorro em situações como esta! A que ponto chegamos de plena frieza! Esta é a humanidade que nos representa?

Mas hoje, no momento que que vivemos, por sermos forçados a termos como companhia apenas as telas para nos comunicarmos, e em forçado isolamento social, talvez entendamos a grandeza da pertença, do sonho, do toque, do abraço! Pelo menos é o que espero, sonhando com um mundo mais solidário pois o resgate desta palavra se faz emergencial!

Esse baque fervoroso de inversões tem um “quê” de pinceladas divinas para compreendermos que devemos frear tudo isso e voltar ao começo usando as telas ao nosso favor!

Quando estamos diante de uma tela pintada por um grande artista, o que fazemos? SENTIMOS!

É isso que nos falta: SENTIMENTO!

Com essa rapidez tudo fica meio vazio, esquecido, fluído, então que tal nos dedicarmos? Captarmos esse tempo para nos organizarmos internamente, quem sabe pintarmos uma tela concreta com nossos sonhos, cores e amores?

Que sejamos mais concretos em sentimentos no tempo que nos resta após tudo isso passar!

Em meio a tantas telas, que a principal delas seja aquela em que você se vê no outro, dentro do olho dele!                        

          Michelle Carvalho

e-mail: michellecarvalhoadvogada@yahoo.com.br

Instagram: michelle_carvalho_escritora

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Imagem destacada: https://pixabay.com/pt/vectors/t%c3%a1bua-tela-monitor-telefone-pc-314153/

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Michelle Carvalho

Biografia: Advogada, Escritora desde os 13 anos, com participação em inúmeras antologias literárias e premiações no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ganhadora do Premio Baixada de Literatura em 2014. Lançou 4 livros: “Furor Letárgico da Alma” (2009), “Versos de Princesa Prometida” (2015 – na 17ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro) e “Cindy Entre Patas e Reinos” (2018) e Cindy Entre Patas e Reinos 2 (2019 – 19ª Bienal Internacional do do Livro do Rio de Janeiro) , estes dois últimos projetos de leitura na Cidade das Artes/RJ, em várias escolas nacionais e internacionais. Além de diversas participações em projetos culturais literários em escolas com palestras motivacionais, intervenções literárias e poéticas em saraus, sendo o último deles o Programão Carioca da Rede Globo no ano de 2018, Participação na FLIM e FLISGO no ano de 2019, bem como posse na ACLAM – Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé.

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