Erick BernardesHISTÓRIAS DE ARARIBOIA

Engenhoca II: a vez de um parnasiano em Niterói

Série: Histórias de Arariboia

Bilac, Amélia e o engenho

Já não bastassem as tradicionais vozes de Ataulfo Alves e Mario Lago entoando as qualidades e saudades da Amélia por aí, agora me vem a história niteroiense oferecer outra melhor. Isso mesmo, a Amélia de Niterói, apetrechos e paqueras na fazenda da Engenhoca. Sim, essa marcou de verdade, dando tom fluminense ao amor entre Olavo Bilac e a sua Amélia.

Bem, sabe-se que, noutros tempos, a Engenhoca teve seu lugar de superimportância para os lados de cá da Guanabara. Isso mesmo, reduto de paz e tranquilidade a quem desejasse ares frescos e climas salubres. Mas não só isso, o bairro onde outrora se instalou fazenda de produção de farinha e açúcar serviu de cenário ao amor mal emendado. Isso mesmo, Olavo Bilac e Amélia de Oliveira, irmã do Luiz e do também poeta Alberto de Oliveira. Verdade. A dona do coração do poeta, a Amélia, a última flor do bardo, viveu mesmo na Engenhoca niteroiense. E é sobre essa história de que tratamos agora.

Em pleno período de produção literária, o poeta Olavo Bilac passou pelo Rio de Janeiro e conheceu a mais singela moradora da Engenhoca. Voltou a São Paulo, mas a jovem não lhe saía do espírito. Exatamente, paixão, ficou caidinho o senhor Olavo. Impossível não se apaixonar. O leitor sabe o que acontece ao poeta que por acaso se declara encantado? Pois é, ímpetos. Sim, arroubos de vontade de conviver com a flor por ele escolhida. Impossível ao artista não ouvir o coração. Queria vir para as terras de Arariboia, claro, dar os ares da graça na Cidade Sorriso e se encontrar novamente no abraço macio. Inculta e bela, ah, a doce Amélia! Multiplicava-lhe a vontade de retornar à Engenhoca. Ampliavam desejos; planos de viagens; a musa do soneto perfeito. Resultado: “Os sentimentos por Amélia obrigaram-no a voltar ao Rio em julho, para pedir logo sua mão, a deixar claras perante a família da Engenhoca as suas intenções” (WHERS, 2002, p. 190). Mas deu ruim, planejamento frustrado, coitado. Frustradíssimo. O tutor da Amélia em nada se agradou da proposta do Bilac e lançou impropérios:

— Vai noivar nada, de jeito nenhum, que suma daqui. Poeta e sambista é tudo igual. A diferença é que o primeiro vem ao encontro do morro e o segundo desce atrás de rapariga. Tudo da mesma vagabundagem. Homem sem futuro, falar de trabalhar ninguém quer.

E assim, desse jeito mesmo, gritou o padrasto rabugento da Amélia de dentro da sala. Como se vê, o responsável legal pela vida de Amélia se mostrou totalmente contra o noivado. Uma pena. Pobre casal desiludido, isso aconteceu um dia. Acaso o leitor queira saber o final feliz, sinto muito. Não tem, infelizmente não tem, sobrou ao versejador a saudade. Os poemas se multiplicaram, as nostalgia também. No coração de Olavo Bilac o bairro da Engenhoca ganhou lugar cativo.

Melancólico o sonetista ficou. Desiludido. Sim, a lembrança da paixão não realizada, conforme a confissão preciosa: “Tristeza singular, estranha mágoa/ porque a vejo com os olhos cheios d’água” (Olavo Bilac). Enfim, Amélia de Niterói é que era mulher de verdade, mas não deu. Perdeu o poeta, perdeu.

Carta do próprio Olavo Bilac em desabafo ao amigo

Referências (acerca do texto): WHERS, Carlos. Capítulos da memória niteroiense. Niterói, RJ: S/N, 2002.

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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