Engenhoca II: a vez de um parnasiano em Niterói
Série: Histórias de Arariboia
Já não bastassem as tradicionais vozes de Ataulfo Alves e Mario Lago entoando as qualidades e saudades da Amélia por aí, agora me vem a história niteroiense oferecer outra melhor. Isso mesmo, a Amélia de Niterói, apetrechos e paqueras na fazenda da Engenhoca. Sim, essa marcou de verdade, dando tom fluminense ao amor entre Olavo Bilac e a sua Amélia.
Bem, sabe-se que, noutros tempos, a Engenhoca teve seu lugar de superimportância para os lados de cá da Guanabara. Isso mesmo, reduto de paz e tranquilidade a quem desejasse ares frescos e climas salubres. Mas não só isso, o bairro onde outrora se instalou fazenda de produção de farinha e açúcar serviu de cenário ao amor mal emendado. Isso mesmo, Olavo Bilac e Amélia de Oliveira, irmã do Luiz e do também poeta Alberto de Oliveira. Verdade. A dona do coração do poeta, a Amélia, a última flor do bardo, viveu mesmo na Engenhoca niteroiense. E é sobre essa história de que tratamos agora.
Em pleno período de produção literária, o poeta Olavo Bilac passou pelo Rio de Janeiro e conheceu a mais singela moradora da Engenhoca. Voltou a São Paulo, mas a jovem não lhe saía do espírito. Exatamente, paixão, ficou caidinho o senhor Olavo. Impossível não se apaixonar. O leitor sabe o que acontece ao poeta que por acaso se declara encantado? Pois é, ímpetos. Sim, arroubos de vontade de conviver com a flor por ele escolhida. Impossível ao artista não ouvir o coração. Queria vir para as terras de Arariboia, claro, dar os ares da graça na Cidade Sorriso e se encontrar novamente no abraço macio. Inculta e bela, ah, a doce Amélia! Multiplicava-lhe a vontade de retornar à Engenhoca. Ampliavam desejos; planos de viagens; a musa do soneto perfeito. Resultado: “Os sentimentos por Amélia obrigaram-no a voltar ao Rio em julho, para pedir logo sua mão, a deixar claras perante a família da Engenhoca as suas intenções” (WHERS, 2002, p. 190). Mas deu ruim, planejamento frustrado, coitado. Frustradíssimo. O tutor da Amélia em nada se agradou da proposta do Bilac e lançou impropérios:
— Vai noivar nada, de jeito nenhum, que suma daqui. Poeta e sambista é tudo igual. A diferença é que o primeiro vem ao encontro do morro e o segundo desce atrás de rapariga. Tudo da mesma vagabundagem. Homem sem futuro, falar de trabalhar ninguém quer.
E assim, desse jeito mesmo, gritou o padrasto rabugento da Amélia de dentro da sala. Como se vê, o responsável legal pela vida de Amélia se mostrou totalmente contra o noivado. Uma pena. Pobre casal desiludido, isso aconteceu um dia. Acaso o leitor queira saber o final feliz, sinto muito. Não tem, infelizmente não tem, sobrou ao versejador a saudade. Os poemas se multiplicaram, as nostalgia também. No coração de Olavo Bilac o bairro da Engenhoca ganhou lugar cativo.
Melancólico o sonetista ficou. Desiludido. Sim, a lembrança da paixão não realizada, conforme a confissão preciosa: “Tristeza singular, estranha mágoa/ porque a vejo com os olhos cheios d’água” (Olavo Bilac). Enfim, Amélia de Niterói é que era mulher de verdade, mas não deu. Perdeu o poeta, perdeu.
Referências (acerca do texto): WHERS, Carlos. Capítulos da memória niteroiense. Niterói, RJ: S/N, 2002.