Crônica Encruzilhada da Vida

Hoje decidi destapar minha caverna e soltar meus morcegos para o mundo. Julguem-me, pois nem juízo de mim eu consigo fazer. Alguma hora, em algum momento de minha existência eu talvez possa digerir esse fato que desabafo no papel através da caneta.

Um dia enquanto caminhava no centro de Niterói fui abordado por uma jovem senhora com um lindo bebê nos braços. Na hora pensei que ela fosse oferecer umas balas que trazia consigo para me vender, mas pasme, ela veio me oferecer o neném dela! Devo ter ficado lívido na hora. Não sei explicar. Lembro-me de ter gaguejado enquanto seu olhar sério penetrava minha alma pelas retinas. Coube uma eternidade naquele minuto. Passou milhões de coisas pela minha cabeça, mas a primeira foi ligar para minha esposa (não o fiz), pois nessa época já tínhamos nossa primeira filha e tenho certeza queela adoraria adotar aquela pequenina.

Um dilema me dividiu ao meio e com o agravante de ter meio minuto para resolver. Um lado brigava para levar aquela boneca para casa e amá-la, oferecer-lhe um lar, uma família e oportunidades. Porém o outro lado me lembrava que existia lei de adoção, implicações penais e muita burocracia pra registrar. Poucos passos a frente havia mais três crianças sujas e maltrapilhas aguardando a mãe voltar. Como retirá-la de seus irmãos?

A realidade esmoreceu-me, olhei fundo nos olhos daquela mulher e a agradeci por me escolher (como se fizesse diferença pra ela), mas eu infelizmente não poderia. Em compensação necessitava ajudá-la. Tentei de várias formas que não fosse aquela drástica opção, mas ela respondeu negativamente enquanto se virava para a direção das outras crianças.

Segui minha direção com lágrimas incontidas a me acompanhar junto com uma incerteza cruel e perturbadora.

O olhar daquele bebê implorando meu colo até hoje maltrata meu coração.