Erick BernardesRESENHAS LITERÁRIAS

Resenha do livro de Zé Salvador, Vai um soneto aí?

O livro de poemas Vai um soneto aí?, do nordestino Zé Salvador, vem a público  contrariando essa modernidade considerada descartável porque a ela nada parece ter importância. Que diremos então dos poemas, nesse momento em que aparentemente quase ninguém lê textos que exijam uns dez ou quinze minutos do dia? O que falaremos, então, se esses mesmos poemas forem os metrificados sonetos? Bem, ao contrário do que se pensa, a poesia em versos, verdadeiramente lapidados, também vem conquistando o seu tantinho de leitores e, assim, outros caminhos se abrem ao artista das letras antenado com seu tempo.

Zé Salvador é o nome artístico de José Washington, natural do Tianguá, Ceará, radicalizado em São Gonçalo, estado do Rio de Janeiro. Artista acostumado a eventos e ruas, escolas, entidades filantrópicas, onde leva seus trabalhos, ele atualmente é colunista do Portal Diário da Poesia e membro da UBT (União Brasileira dos Trovadores). Ele leva a sua arte poética sem olhar a quem. É um exímio mestre da métrica de versificação e, não raro, empresta sua palavra a rádios locais fluminenses. Participou de não menos que 35 antologias literárias e destacou-se em inúmeros prêmios literários. É coautor de Poema à flor da pele, organizada por Soninha Porto, e também os volumes 1 e 2 da chamada Antologia de poetas gonçalenses. Muitos folhetos de cordel estão distribuídos Brasil afora. Salvador ainda possui três livros solo de poemas pela Amazon.com, e outros títulos em via de publicação. Administra o Blog Grillo Amestrado onde expõe seus escritos, além de ser convidado assíduo da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC).

O volume de poemas de Zé Salvador é pois um bom exemplo da oportunidade que se cria no panorama literário dessa modernidade dita globalizada, pois consegue oferecer ao leitor poemas do mais alto refinamento. Outra boa notícia é que o livro deste cearense vem com o prefácio inteligente de Rodrigo Santos, somando esforços para proporcionar ao leitor uma obra que ofereça cultura de qualidade, diante desse automatismo alienante em que vivemos. Já no título de Vai um soneto aí?, Salvador nos chama atenção para o modo aparentemente despretensioso com o qual oferece os seus versos ao público consumidor. É como se o leitor esbarrasse com um ambulante, dentro de um ônibus ou trem, por exemplo, e, em vez de amendoins, jujubas ou pipocas açucaradas, esse enunciador disponibilizasse seus sonetos da forma mais informal possível, sem que aquela fama de literatura feita para elites servisse de obstáculo ao seu projeto literário.

Se essa sua maneira de chegar até o leitor configura alguma estratégia de ativismo cultural, não saberemos (bem provável quem sim), pois ao eu-lírico importa a vontade ou o modo de expressão, e é o texto que nos mostra isso, conforme o trecho do poema “Caracteres da imperfeição”: “A mim, move o poder do pensamento/ Eu nem sempre controlo, nem defino, /E me comporto tal qual um menino…/É que às vezes me falta argumento!” (p. 34). Nota-se, entretanto, não ser necessariamente falta de argumento ao enunciador um problema, pois, no jogo da linguagem, essa voz lírica se diverte poetizando e expressa seus “pensamentos” no plano dos versos majoritariamente decassílabos (dez sílabas poéticas) heroicos acentuados na 6ª e na 10ª sílabas — e é onde o texto se fundamenta em quatro estrofes compactas. E mais, ao notarmos haver na voz poética certos traços semelhantes aos da vida do próprio artista, os poemas nos deixarão à par de uma vontade lançada sobre o texto, ou melhor, um desejo de poetizar desse “eu” que quer falar com o público

Assim, valendo-se de um eu-lírico acessível e interativo, o livro Vai um soneto aí? chama o leitor à participação ativa dos sentidos produzidos junto ao texto. É pois, uma identificação com quem o decide ler, uma espécie de reconhecimento, como se os sonetos dialogassem com o interlocutor e dissessem, por fim: “Eu sei que a tua alma fala com a minha”. (p.78)

Referência:

SALVADOR, Zé. Vai um soneto aí? São Gonçalo, RJ: Letras e Versos, 2017.

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: [email protected] e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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