Altamir Lopes

Brinquedocracia

Naquele quarto cheio de brinquedos começou a emergir uma certa discussão sobre como deveriam se organizar e  formarem lideranças, grupos sociais e formas de governo. Ninguém sabia ao certo como começou essa discussão, mas a “treta” acabou envolvendo não só os brinquedos que eram guardados cuidadosamente no baú existente ali, mas também os que ficavam nas prateleiras, os espalhados pelo chão do quarto e por toda a casa. Parece que o dono daqueles instrumentos lúdicos viajara pra algum lugar distante e ficaria longe por alguns dias. Foi o tempo suficiente pra gerarem muitas dúvidas naqueles brinquedinhos. A guerra estava começando…

Parecia que os artefatos que tinham ou faziam lembrar formatos humanóides  – soldadinhos de chumbo, bonecos de super-heróis,  robozinhos e até figurinhas ou cartinhas com fotos de celebridades e bonecos de bebês – tomavam a dianteira em assumirem o governo e tornarem-se os líderes dos brinquedos. O argumento era óbvio: Consideravam-se superiores e mais nobres diante dos outros formatos de brinquedos. Afinal, eram os que mais se aproximavam em aparência dos seus criadores. Mas esse grupo estava meio dividido: Alguns defendiam a Aristocracia, outros o totalitarismo, e um ou dois, a Democracia.

E assim, a discussão continuava: Os brinquedos mais caros entendiam que eram os mais valiosos, por isso, queriam implantar a plutocracia. Os jogos de tabuleiro achavam que por serem estratégicos e mais inteligentes, defendiam – um tanto que veladamente – a Cleptocracia. Os videogames e eletrônicos em geral saíram em defesa da Tecnocracia. A Bola de futebol queria mesmo era a implantação da Monarquia, sendo que as bolas de gude, a de ping pong, a de basquete e similares seriam nobres fidalgos…Sim, a Bola de futebol defendia fortemente que era o mais importante e real divertimento de todos os tempos. Por isso já se considerava uma Rainha.

E muitos outros sistemas de governos foram discutidos, debatidos, causaram guerras e mais guerras. Alguns brinquedos simplesmente desapareceram, sumiram. Outros apareceram com peças quebradas não se sabe por quê. A Anarquia, no final das contas, começou a tomar conta do quarto e ele virou uma verdadeira bagunça. Ninguém se achava ou achava alguma coisa. Presidencialismo, Parlamentarismo, Nepotismo, Demonocracia…Brinquedo tentava dominar brinquedo para o seu próprio prejuízo.

Um dia, o Dono dos brinquedos chegou de viagem, entrou no quarto e decidiu arrumar tudo. E cada um encontrou o seu lugar. Cada um começara a ser usado de acordo com a vontade do seu verdadeiro líder e cada um começou a entender a sua real posição. Entenderam que os seus respectivos objetivos existenciais estavam diretamente ligados ao propósito do seu Amo. Sem castas, sem divisões, sem maior ou menor importância. Sem domínio de um sobre o outro. Apenas fazendo ao outro e a si mesmo, um brinquedo mais feliz, sem perder sua identidade, sem perder sua importância e individualidade. Na maioria das vezes, brinquedos eram organizados interativamente nas horas das brincadeiras. Todos eram importantes. Ninguém mais se importava em ser líder de ninguém. E acabou a ideia de dominarem-se uns aos outros.

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Altamir Lopes

- Graduado em Gestão de Negócios, MBA em Gestão de Recursos Humanos, Orientador Educacional e de Carreira, Licenciando em Pedagogia e Pós-graduando em Neuropsicopedagogia. - Desenhista, formado pelo SENAC RJ. - Terapeuta Integrativo, Formado em Reflexoterapia, Quiropraxia e outras técnicas holísticas. - Palestrante, Instrutor de cursos gerenciais e Técnicos. - Mas acima de tudo, um servo do Deus vivente Jeová, Pai, marido e ser humano reflexivo. Na coluna que leva o meu nome, vamos nos encontrar para refletir sobre a arte da gestão de pessoas e relacionamentos. Nos meus textos, pretendo levantar questões e reflexões sobre a sociedade humana e seus meandros paradoxais e especialmente, a relação que cada um tem consigo mesmo por meio de textos em verso, prosa, crônicas, contos etc. E também publicarei na coluna RH - Resultados Humanos, artigos que tratam dos Resultados da ação Humana na História. Entrevistas com pessoas que fizeram acontecer e reflexões profundas também farão parte dessa coluna. De vez em quando, em quaisquer dessas colunas, vou publicar uma charge ou caricatura autoral...Espero que gostem.

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2 Comentários

  1. Adorei
    Gostei muito do processo criativo e do encaminhamento que vc deu ao texto

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