ENTREVISTAS

Entrevista: Conheça o escritor Antonio Rodrigues

Enquanto leitor faminto, quando pude adquirir livros, li com sofreguidão tudo que podia ler: filosofia, sociologia, psicologia social, história, antropologia e até teologia.

Na coluna “Entrevista”, a Revista Entre Poetas & Poesias vai apresentar uma série de entrevistas com artistas de diferentes cantos do mundo.

Conheça o escritor cearense Antonio Rodrigues

Apresente-se

Meu nome é Antonio Rodrigues, sou cearense, nascido aos 14 dias de junho de 1977, num povoado-colônia que outrora fizera parte de uma antiga fazenda colonial chamada Jacurutu, ao norte do estado. Cheguei ao Rio de Janeiro em fevereiro de 1985 e me estabeleci em São Gonçalo, donde não saí mais. Sou casado, tenho dois filhos, um menino de onze anos e uma menina de um ano e meio. Não tenho nível superior. Por formação, sou técnico de eletrônica. Trabalho na administração de um edifício no Centro do Rio. E acredito na força do livro e da leitura como instrumentos de construção de uma sociedade mais consciente e humanizada, pois como dizia o mestre Monteiro Lobato: “Um país se faz com homens e livros”. De resto, sou como todos, cheio de contradições e fantasmas interiores.

Em qual momento da vida você percebeu que tinha gosto pela escrita?

Tinha eu seis ou sete anos quando desejei ser escritor pela primeira vez, encantado que estava com um homem que escrevia cartas e que, em terra de analfabetos, havia se tornado lenda. Encantado e ao mesmo tempo assombrado com a ideia de que as palavras escritas nas cartas pudessem levar saudades, alegrias, tristezas, doenças, nascimentos, mortes e notícias de toda ordem até os confins do mundo. Tudo isso me alimentou, por algum tempo, o desejo de um dia ser escritor de cartas como aquele homem velho e barbudo. Desejo que foi renovado quando me entreguei à leitura de obras literárias. Com tantas histórias já vividas, a tentação de contá-las foi inevitável. Garcia Marques, que em sua autobiografia “Viver para contar” escreveu no frontispício da obra: “A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda e como recorda para contar”, instigou-me ainda mais em minha vontade de recordar e recontar antigas e novas histórias que a vida escreveu e que só a memória as tem guardadas.

Qual o papel da leitura nos âmbitos escolar e familiar?

Há um certo consenso de que o ambiente familiar ajuda a criar o hábito da leitura na criança. “Leitura é um hábito que se adquire pelo exemplo”, diz a especialista em literatura infantil e escritora Ieda de Oliveira. E eu acredito nisso. Um ambiente familiar que valoriza o livro, um ambiente em que os pais leem e que desde cedo põem a criança em contato com livro, principalmente pelo hábito saudável de ler histórias na hora de colocar a criança para dormir, é fundamental para a formação do leitor. À escola cabe reforçar na criança o universo do livro e do leitor, “a literatura infantil não serve para ensinar, empurrar informações. Educar é conduzir. É tratar o leitor como ser inteligente, é orientar a aprendizagem e não adestrar”. Neste último caso, da infância à adolescência, a escola deve ser um território de descobertas e de ampliação do mundo do estudante. Não adestrar, mas forjar o prazer da leitura e do livro na criança e no adolescente é fundamental para que o leitor se forme, se consolide e continue a ler ao longo da vida.

O que gosta de ler? O que recomenda? Por que?

Enquanto leitor faminto, quando pude adquirir livros, li com sofreguidão tudo que podia ler: filosofia, sociologia, psicologia social, história, antropologia e até teologia. Eu queria ler os grandes, os mestres, e entender por que eram grandes.  Depois descobri a literatura, e acredito que a base de conhecimento adquirida nos ensaios me proporcionou um enorme ganho como leitor de ficção, principalmente do romance. Pois o romance admite tudo, encontramos tudo lá: filosofia, sociologia,  psicologia, história, teologia etc. Se eu pudesse aconselhar alguém a ler, diria: leia tudo, alargue a base de conhecimento. E o ganho como leitor será amplificado.

No âmbito cultural, qual a função da arte na sociedade?

Há uma velha discussão acerca da arte que vem poluída por uma visão utilitarista. Daí a sentença: “A arte é inútil”, ” que para um cidadão não iniciado na paixão pela arte, pode parecer depreciativo. Mas o amante da arte compreenderá que a arte não pode ser utilitarista, a dimensão da arte é outra, o de alargar a vida, e fazer o homem ao largo, e por isso mesmo, tanto em Pessoa como em Gullar, a arte ganha contornos de existência em oposição às visões utilitaristas. Daí que a arte existe porque a vida, somente a vida, não basta. E socialmente falando, acredito que a arte é um dos pilares da construção identitária de um povo.

O que espera atingir quando alguém lê os seus textos?

Arthur da Távola dizia que “a gente começa a escrever para exorcizar os próprios fantasmas”, e só depois podemos descobrir a literatura. Essa sentença me serve. Talvez eu ainda esteja na fase de exorcizar os fantasmas interiores, e por isso mesmo, quando um texto meu escapa por aí, espero ao menos que o leitor se  identifique com  os fantasmas, que são em geral comuns ao gênero humano.

Sabemos que lançou recentemente, um clube do livro. Conte-nos como foi, qual objetivo e como será daqui para frente.

Meu sonho de fundar um um clube de leitura em São Gonçalo tem alguns anos. Mas neste ano saiu da mera especulação e tornou-se realidade. No dia 22/02/2019, um grupo de pessoas se dispôs a privilegiar a reunião inaugural do clube na galeria de arte do ICBEU. Batizamo-lo de Quixote – Clube de Leitura, em homenagem ao pai do romance moderno, Dom Quixote. A semente foi lançada de forma bonita, mas há um longo trabalho de consolidação pela frente.  Acredito na revolução do livro. Uma das maiores revoluções culturais da história aconteceu no início do segundo milênio, quando o Ocidente redescobriu os livros de Aristóteles, esquecidos por quase mil anos para a cultura ocidental. Um estudante da época, fascinado com a redescoberta, definiu de forma cristalina a revolução dos livros de Aristóteles: “Os livros dele têm asas”. E porque os livros têm asas, podemos alargar nossa visão do mundo, do homem e de nós mesmos em particular. Desejo que o “Quixote” estimule a leitura e o aparecimento de novos clubes de leitura em nossa cidade, e que nessas asas que os livros têm, esses novos leitores possam dizer como o poeta: “Todos esses que aí estão / Atravancando / meu caminho, / Eles passarão… /  Eu passarinho!”

Que voemos todos nas asas dos livros. 

Planos para o futuro e forma de contato.

Para o futuro, penso em consolidar o clube de leitura que acabo de fundar em nossa cidade e ajudar e formar novos leitores.

Na escrita, amadurece há alguns anos algo que acredito ter o potencial de um romance. Estou apenas aguardando o momento em que ele me peça para ser escrito. Será escrito quando ele estiver pronto e não eu.

O pessoal pode me contactar pelas redes sociais:

https://www.facebook.com/ajr1977

https://www.instagram.com/antonio.j.rodrigues

Ou pelo e-mail: [email protected]

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Redação

A Revista "Entre Poetas & Poesias" surgiu para divulgar a arte e a cultura em São Gonçalo e Região. Um projeto criado e coordenado pelo professor Renato Cardoso, que junto a 26 colunistas, irá proporcionar um espaço agradável de pura arte. Contatos WhatsApp: (21) 994736353 Facebook: facebook.com/revistaentrepoetasepoesias Email: [email protected]

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