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Resenha Literária: Cambada, um livro de Erick Bernardes – por: Nivea Sandden

Falar de um livro de crônicas cujo título é Cambada, tomado como substantivo coletivo de um amontoado de caranguejos, já é em si algo singular. Perguntei ao autor qual o motivo de tamanha excentricidade em ter escolhido esse nome para o seu segundo livro? E assim ele me respondeu: “acho os crustáceos do mangue uns dos seres mais fantásticos do mundo. Isso porque vivem na lama menosprezada pela maioria das pessoas que, ignorantes da importância do charco onde esses caranguejos vivem, acabam não reconhecendo o seu real valor. Assim é o povo de São Gonçalo, desvalorizado por muitos, negligenciados até por instâncias maiores de governo. Mas os gonçalenses são como o manguezal das praias de cá, por mais que sujem a sua imagem, joguem impurezas neste lado da baía, nossos caranguejinhos sobrevivem, ficam fortes, sustentam famílias, e alguns até sobem em árvores e chegam ao topo, onde ninguém imaginaria que pudessem alcançar: vencem a escalada da vida”.

Ao usarmos um outro tipo de analogia para captar a metáfora do livro, é bom também pensarmos no apelido que recebe aquele que nasce em São Gonçalo: papa-goiabas. Ressaltamos que um monte de histórias explicaria esse apelido estranho, mas não nos convém esclarecimento desse tipo em prefácio de obra literária. No entanto, sabendo que é costume dos caranguejos se alimentarem (dentre outras coisas) de folhas e frutos da goiabeira, é mais que possível operar um ligação de sentido entre os gonçalenses papa-goiabas e os bichos do mangue. Outra questão válida de lembrar é que o livro anterior do artista, o Panapaná, também obteve como título o substantivo coletivo, um conjunto de borboletas, portanto nada no livro parece aleatório.

Em suma, acreditarmos que se trata de uma proposta ou projeto literário, a maneira coletiva de Erick Bernardes de encabeçar as coisas; buscar uma linha que vise o conjunto, como sugere o título da obra Cambada: crônicas de papa-goiabas. Com essa decisão, o artista demonstra consciência de que não somos nada nem ninguém quando trabalhamos sozinhos, e assim ele oferece essa cambada de crônicas a todos que queiram conhecer um pouco mais da história oral de São Gonçalo.

Por: Nivea Sandden, escritora e artista plástica

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Redação

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