Erick BernardesNotícias

No tempo do Andaraí

Série: Histórias do Brasil (conto IV)

Fonte: Arquivo Nacional

Seria mais um lugar comum começar esta crônica mencionando a citação ou cantando o refrão de “no tempo que Don-don” jogava por lá. Pois é, o bairro também foi citado por Machado de Assis, no romance Helena, como lugar importante. E ganhou popularidade mesmo através da canção de Nei Lopes, imortalizada pelo Zeca e oferecendo assim seu tom nostálgico. Mas, tudo isso foge ao propósito de referirmos ao Andaraí, um dos arredores mais antigos da Grande Tijuca. Falemos então aqui das suas origens.

Bem, um bom motivo para narrar a história da fundação do Andaraí se deve ao fato de que o lugar proporcionava à geografia fluminense algumas das primeiras vilas operárias do nosso querido Rio do Janeiro. Verdadeiramente, o assunto é bom de se explorar, são histórias que dão mais pano pra manga do que o samba que conta a trajetória do zagueiro Don-don, antigo jogador do clube de lá. E, por falar em pano pra manga, há quem jure que a primeira indústria de tecidos se instalou nas redondezas, naqueles bons tempos de outrora. Ah, época boa! — diria o dono do velho armazém. Noutra ocasião, um motorista de taxi propagava ser o Andaraí “A nossa Londres brasileira, charmoso reduto de trabalhadores industriais do Rio”.

Sabe-se de alguns poucos residentes mais idosos que não hesitam em confirmar essas narrativas incríveis. Umas graças esses moradores, falantes como eles só. E não é que os antigos moradores têm mesmo razão? Se escolhêssemos a explicação linguística, o termo de origem Tupi daria o enredo da história mais doida que já ouvi na vida, pois a tradução de Andaraí (“andyrá” + “y”) quer dizer “rio de morcegos”. Incrível esse significado do nome, uma representação estranha, obviamente. No entanto, tal registro serviria mais como contação de lendas e fábulas nativas do que como explicação real. Onde já se viu, morcegos nadando em correntezas? Imagine! Rio de morcegos, desnecessário comentar, estranhíssimo. Melhor ficarmos com a rica história industrial do lugar, pois o Andaraí ganhou fama por causa da geração de empregos. Isso mesmo, onde antigamente constituía habitação de Padres Jesuítas, comporta hoje shopping, campo de futebol, Banco do Brasil, ou seja, empresas dos mais diversos gêneros.

Fonte: Pixabay

Portanto, nada de falarmos sobre o tal rio de morcegos dos tempos passados. Tampouco mencionarmos o zagueiro Don-don famoso na música de quando a vida era mais simples de viver. Mais atual é referir pelo nome daquele córrego do Andaraí. Sim, chamam a ele agora de Rio Joana, onde nos faz mergulhar, enfim, em toda nossa nostalgia de bairro.

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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