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A curiosa história de Varre-Sai

Há, no interior do Brasil, algumas dessas explicações históricas que, se não forem narradas, perderão suas cores na poeira do tempo. Pois é, dia desses, em um dos eventos beneficentes para certo abrigo de idosos, um dos simpáticos colaboradores comentou: “vi sua reportagem sobre a cidade de São José do Calçado. Muito legal, bateu certa nostalgia da roça. Sou do município de Varre-Sai, pertinho de lá”.

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Tão logo o senhor José Luís Tupini segredou ter nascido no município de Varre-Sai, no Noroeste Fluminense, divisa com o Espírito Santo, ele decidiu compartilhar as suas memórias, e foi aí que essa história aconteceu.

— Diziam os antigos que, lá no Noroeste Fluminense, muitos tropeiros atravessavam as terras incultas, carregavam produtos cultivados nas fazendas, guiavam animais pelos velhos caminhos apelidados “lá vai um” e buscavam repouso nas raríssimas chácaras de produção de vinhos de jabuticabas que existiam por lá. Eram imigrantes hospedando tropeiros em comitivas de mulas e carros de boi. Eu mesmo sou neto de italianos, toda a minha família veio da velha Terra Nostra. Que Saudade, meu Deus!

Bem, de acordo com esse meu novo amigo, o município de Varre-Sai nasceu de uma região de antigos colonos majoritariamente italianos. Chegaram esses ancestrais no intuito de cultivar o café e assim eles fizeram. Apaixonados pelo tradicional vinho produzido na Europa, aqui eles se depararam com a fartura da jabuticaba brasileira. Daí por diante, o leitor já consegue intuir: se a frutinha nativa se assemelha tanto assim com a uva de fazer vinho, é lógico que se inventou no Brasil o vinho de jabuticaba. Resultado disso? Muitos viajantes preferiam estacionar suas tropas de mula pelas vizinhanças e degustar as bebidas fabricadas nas paragens.

Pois é, só até aqui já se tem uma interessante história. Mas isso não para por aí, pois diziam as boas línguas acerca do lugar, que justamente o fato de os tropeiros escolherem a Chácara da Mafalda para descansar seus homens e animais de carga, e também se alimentarem, é que motivou o nome ao lugar. Portanto, se esses mesmos viajantes desciam suas cargas e usavam o chão da propriedade da Mafalda, eles se sentiam na obrigação de pagar pela estalagem, mesmo que não houvessem consumido das provisões da fazenda. Assim, a dona Mafalda recusava: “não, de maneira nenhuma cobrarei de vocês. Àquele tropeiro responsável pela bagunça e sujeirada, peço apenas que dê uma limpezinha, ‘varre e sai’. Nada mais”.

E assim, simples assim, ficou o lugar conhecido por todos. Varre-Sai, eis aí.

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: [email protected] e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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