Nosso Cordel

Nosso Cordel – “A Mãe d’água e o Turista” – Massilon Silva

–Nosso Cordel: “Coluna destinada a publicação de cordéis de escritores acima de 18 anos. Basta enviar para: revistaentrepoetasepoesias@gmail.com (por favor, colocar as devidas identificações)”.

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Fonte da imagem: https://pixabay.com/pt/photos/lago-p%c3%b4r-do-sol-pedras-banco-1802337/

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A MÃE D`ÁGUA E O TURISTA
Massilon Silva

Agora neste momento
Preste atenção o leitor
Pois pretendo relatar
Mais uma história de amor
Que aconteceu no sertão
Prepare seu coração
Para ouvir o trovador

Foi no Rio São Francisco
No nordeste brasileiro
Na Vila Ilha do Ferro
Lugar pacato e ordeiro
Do Estado de Alagoas
Entre lanchas e canoas
Turistas e canoeiros

Por entre limos e pedras
Ali o rio passeia
Suas águas cristalinas
Formando bancos de areia
Em noite de lua mansa
Na linda praia descansa
Encantadora sereia

A famosa mulher-peixe
De compleição feminina
Tem o perfume das rosas
Que vicejam na campina
Seus olhos insinuantes
São por vezes mais brilhante
Que a estrela matutina

Cabelos lisos e negros
Deitando longas melenas
Em ombros harmoniosos
De curvatura pequena
Rosto leve como a brisa
Sorriso de Mona Lisa
Rosto de Palas Atena

Essa deusa ribeirinha
Das noites enluaradas
Soberana do destino
Rainha das encantadas
Por mãe-d`água conhecida
De tantas vidas vividas
De tantos contos de fadas

Causa grandes sofrimentos
Com seu porte jovial
Seduzindo canoeiros
Pescadores em geral
Deixando-os enlevados
De repente apaixonados
Por seu canto divinal

E quando isso acontece
Em sendo a hora chegada
O homem se desespera
Já não pensa mais em nada
Ela faz o inesperado
E seduzindo o coitado
Leva pra sua morada

A morada da Iara
Fica num lugar sombrio
Longe dos olhos humanos
Num recanto escuro e frio
Onde seres de outro mundo
Dormem no leito profundo
Das profundezas do rio

O rio é o São Francisco
Que no oceano deságua
Desde a Serra da Canastra
Majestoso curso d`água
De sinuosos caminhos
Entre pedras e espinhos
Ali nasceu a mãe-d`água

Até hoje não se sabe
Como tudo começou
A repetição oral
Em verdade transformou
A lenda da deusa Iara
Essa criação de Odara
Que o imaginário cunhou

Foi numa aldeia distante
Onde morava um Pajé
Em sua tenda de palha
Das montanhas no sopé
Rodeado de guerreiros
Duendes e feiticeiros
Protegidos pela fé

O Pajé tinha três filhos
Valentes e corajosos
Protetores do seu povo
Três infantes valorosos
Mas o que não se sabia
Era que os irmãos um dia
Fossem cruéis invejosos

Em noite de tempestade
Entre raios e corisco
Quando animais assustados
Corriam para o aprisco
Nascia na madrugada
Quem mais tarde foi chamada
Sereia do São Francisco

Diz a lenda que ela veio
De grande nuvem escura
Logo ao chegar foi saudada
Pela sua formosura
Tinha rosto de princesa
Nos olhos toda beleza
Na pele toda candura

Aquela jovem nativa
A nenhuma se igualava
Era forte e destemida
Corajosa trabalhava
Era difícil de crer
E todos queriam ter
A força que ela esbanjava

Assim viveu e cresceu
Despertando a atenção
Dos habitantes da tribo
E a inveja dos irmãos
Que numa sanha homicida
Que numa sanha homicida
Quiseram tirar-lhe a vida
Num ato de vil traição

Foi quando a índia guerreira
A corajosa menina
Venceu os três em duelo
Para cumprir sua sina
Temendo uma reprimenda
Abandonou sua tenda
E foi morar na colina

O pai não se conformando
Com o que aconteceu
E num ímpeto de fúria
Grande castigo lhe deu
Com a vida por um fio
Ela atirou-se no rio
Porém não sobreviveu

Seu corpo foi encontrado
Pelos peixes em cardume
Que a trouxeram fora d`água
Em borbulhante queixume
E assim nasceu a sereia
Que em noite de lua cheia
Mata de amor e ciúme

Pois a lenda da mãe-d`água
Foi assim que começou
Daquele dia em diante
O rio se transformou
Pescadores destemidos
Ficaram doidos varridos
Quando ela os conquistou

Não há como resistir
Aos encantos da sereia
Quando exala seu perfume
Em noite de lua cheia
Cantando para atrair
Conquistar e seduzir
Em toda e qualquer aldeia

Mira-se no espelho d`água
Vai penteando os cabelos
Na boca largo sorriso
Nos brações sedosos pelos
Os rapazes abismados
Muitos hipnotizados
Enlouquecem só de velos

Dizem que certo turista
Jovem e belo rapaz
Chegando a Ilha do Ferro
Como todo mundo faz
À guisa de passear
Foi ao rio se banhar
Era isso e nada mais

Saindo das claras águas
Foi-se deitar na areia
A noite era bela e calma
Em tempo de lua cheia
E em menos de meia hora
Ali mesmo sem demora
Ele avistou a sereia

Ao ver aquela beldade
Sentiu o corpo tremer
Coração acelerado
Não parava de bater
Ficou logo apaixonado
Estava tão encantado
Que não pode se conter

Correu querendo abraçar
Aquele ser sem igual
Avistando na sereia
Sua mulher ideal
Porém ela se esquivando
Nas águas saiu nadando
Sem lhe deixar um sinal

Então no dia seguinte
No mesmo horário e local
Sua princesa das águas
Apareceu afinal
Muito mais maravilhosa
Mais sedutora e formosa
Mais elegante e fatal

O rapaz maravilhado
Com a beleza que viu
Correu para junto dela
Que logo submergiu
Naquele mesmo momento
Ágil como o pensamento
Para o seu reino partiu

Aquele moço porém
A todo instante sofria
Desejando sua deusa
Fosse de noite ou de dia
Algum tempo se passou
Uma noite ela voltou
Como antes não se via

Sua imagem soberana
Soberba se refletia
Nas águas do grande rio
Irradiando magia
Uma canção entoava
E as notas transformava
Numa bela sinfonia

Então naquele momento
Para o moço ela acenou
Indo ele ao seu encontro
A sereia o esperou
Acolhendo-lhe em seus braços
Entre beijos e abraços
O seu destino selou

O que ele tanto esperava
De repente aconteceu
Viver o amor eterno
De Julieta e Romeu
Eternizando o instante
Daquele dia em diante
Nunca mais apareceu

O povo desesperado
Pelo jovem procurou
Vasculhando toda a Vila
Mas ninguém o encontrou
Diziam não volta mais
Ninguém encontra o rapaz
Parece que evaporou

Chamaram mergulhadores
Pessoas de competência
Aptas e acostumadas
Com o rio à convivência
As águas não responderam
Esperanças se perderam
Desistiram na sequência

Correu então o boato
Que depois se confirmou
Sob a luz clara da lua
Um pescador avistou
Numa noite calma e fria
Quando o turista corria
E a mãe-d`água abraçou

Firmou-se então a estória
Tida como verdadeira
Quem se aproxima do rio
Avista da ribanceira
Uma cena que é assim
A mãe-d`água e um surubim
Brincando na corredeira

O ano ninguém se lembra
Pois o que vale é a crença
Já que o tempo não existe
Não vai fazer diferença
Seja no dia que for
Importante é que o amor
Chega sem pedir licença

A verdade não se sabe
Não há registro legal
Mas é tido como certo
Pela tradição oral
Que toda noite a sereia
Vem exibir na areia
Sua beleza real.

F I M

Autor: Massilon Silva
Aracaju – Sergipe
E-MAIL: massilonsilva00@gmail.com

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Redação

A Revista "Entre Poetas & Poesias" surgiu para divulgar a arte e a cultura em São Gonçalo e Região. Um projeto criado e coordenado pelo professor Renato Cardoso, que junto a 26 colunistas, irá proporcionar um espaço agradável de pura arte. Contatos WhatsApp: (21) 994736353 Facebook: facebook.com/revistaentrepoetasepoesias Email: revistaentrepoetasepoesias@gmail.com.br

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